domingo, 26 de novembro de 2017

Viva os 40 anos de punk e 35 anos do festival "O Começo do Fim do Mundo"

O PUNK EM SP

 

Punks paulistas fazem história

O ano de 1982 é muito importante para a história do movimento punk em São Paulo e no Brasil. O selo independente Punk Rock lança o álbum Grito Suburbano, primeiro registro sonoro com bandas punk (Inocentes, Cólera e Olho Seco) lançado no País. Em seguida, lança também o compacto da Lixomania, Violência e Sobrevivência. No mesmo ano, Redson, do Cólera, lança mais um álbum punk: a coletânea Sub, com Cólera, Psykóze e Fogo Cruzado. Ainda em 1982, são produzidos dois documentários sobre o movimento punk paulista: Garotos do Subúrbio, de Fernando Meirelles, e Pânico em SP, de Mário Dalcêndio Jr. No final do ano, é realizado o primeiro festival punk no País, com repercussão internacional: o Festival O Começo do Fim do Mundo, realizado no SESC-Pompeia.

CRONOLOGIA DO PUNK EM SP

1978-1979 – Surgimento das primeiras bandas punk em São Paulo: Restos de Nada, AI-5, Cólera, Olho Seco, Condutores de Cadáver e Lixomania.

1980 – O movimento punk se fortalece em São Paulo e em outras cidades do País. Surgem novas bandas: Ratos de Porão, Psykóze e Fogo Cruzado (SP), Hino Mortal, Garotos Podres e Ulster (ABC), Desordeiros e Espermogramix (RJ), Aborto Elétrico e Blitx 64 (DF), Replicantes (RS) e Camisa de Vênus (BA).

1981 – Show punk no Salão Beta da PUC-SP com bandas de São Paulo e do ABC: Inocentes, Passeatas e Ulster.

1982 – O selo Punk Rock lança, em abril, o primeiro álbum com bandas brasileiras: Grito Suburbano, LP de 45rpm com 12 faixas de Inocentes, Cólera e Olho Seco. Em setembro, o selo lança o primeiro disco punk de apenas uma banda: o compacto triplo da Lixomania, Violência e Sobrevivência.
Em seguida, é lançada a coletânea, SUB, pelo selo Estúdios Vermelhos, do Redson (Cólera). O LP, de 24 faixas, inclui músicas do Cólera, Psykóze e Fogo Cruzado.
No mesmo ano, são produzidos dois documentários em vídeo sobre os Inocentes e os punks paulistas: Garotos do Subúrbio, dirigido por Fernando Meirelles e exibido no MASP, e Pânico em SP, dirigido por Mário Dalcêndio Jr.

Festival O Começo do Fim do Mundo

No final de 1982, em 27 e 28 de novembro, é realizado o festival O Começo do Fim do Mundo, no SESC-Fábrica da Pompeia (inaugurado em janeiro daquele ano).


Capa do LP O Começo do Fim do Mundo

O evento foi organizado pelo escritor Antonio Bivar e pelo guitarrista Antônio Carlos Calegari, dos Inocentes. Os dois dias do festival reuniram 20 bandas punks de São Paulo e do ABC e um público de 3 mil pessoas. Terminou com invasão da Polícia Militar e dezenas de detidos.

1983 – Lançamento do álbum homônimo com as bandas que se apresentaram no festival. A produção foi feita pelo selo New Face Records, de Fábio Sampaio (Olho Seco).

Em maio de 1983, a Lixomania e mais sete bandas paulistas apresentam-se no Festival de Punk Rock no Circo Voador (RJ). Em agosto, a Lixomania e outras bandas participam do Festival de Rock de Juiz de Fora (MG).

Ainda em 1983, são lançados os compactos Botas, Fuzis, Capacetes (Olho Seco) e Miséria e Fome (Inocentes).

No mesmo ano, os Inocentes são os personagens principais do vídeo de média-metragem Punks, dirigido por Sarah Yakni e Alberto Gieco.

1984 – Lançamento do álbum Crucificados Pelo Sistema, do Ratos de Porão.

1985 – Lançamento do álbum Tente Mudar o Amanhã, do Cólera.

O legado do punk paulista

Muitas bandas de punk rock desapareceram (algumas sem deixar qualquer vestígio) e outras continuaram restritas ao circuito alternativo. O novo cenário musical passou a ser dominado pelas novas bandas de Pop/Rock (Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Titãs, Capital Inicial, Ultraje a Rigor, etc). No entanto, a Lixomania e as bandas punks de SP já haviam deixado a sua mensagem. Pelo menos com relação às letras, podemos perceber ecos do inconformismo e irreverência punk em músicas de sucesso como Inútil (Ultraje a Rigor), Polícia (Titãs), Que País É Este? (Legião Urbana), Veraneio, Vascaína (Capital Inicial) e Até Quando Esperar (Plebe Rude), entre outras.


(Texto extraído do livro “Miro de Melo 30 anos de rock - trajetória musical do baterista do 365 e Lixomania” - Editora Sinergia, 2013, escrito por Edson Luís Rosa)